Mãos trêmulas, o suor já toma parte de meu rosto, os lábios se ressecam um pouco mais... A sensação de vertigem e o frio na barriga começaram ainda na sala de embarque.
Duas crianças se aproximam sorridentes e despreocupadas, certamente elas já estão acostumadas. Logo vem a mãe indicando onde elas sentariam. Todos estão tranquilos demais, nem parece que em poucos instantes estarão a vários quilômetros do chão. Me apavoro ainda mais e já sinto os batimentos intensos de meu coração. Que bom que esse senhor ao meu lado já dormiu, ele poderia escutar.
A aeromoça muito bonita e simpática se posiciona próximo à entrada e dá início à sequência de instruções de voo. Enquanto isso, a voz da chefe de cabine ecoa pelo avião: "Ladies and gentlemen, your attention, please." Ela fala também em português. Não escuto nada!
Finalmente as instruções são encerradas. Penso em mandar mensagem para minha mãe dizendo que a amo, queria pedir desculpas a minha irmã por ter usado seu lindo vestido sábado e ter lascado nas costas... Ela ainda não sabe! Queria falar com meu pai que deixei de acreditar em Papai Noel quando tinha 4 anos ao encontrar a barba postiça na gaveta dele. Mamãe me fez prometer que nunca contaria.
O senhor ao meu lado acorda!!!
- Primeira viagem de avião? – pergunta ele.
Certamente está ouvindo meus fortes batimentos cardíacos.
- Não, mas é minha primeira viagem internacional. Eu sempre quis conhecer Nova York. – menti no impulso, para não ficar por baixo.
Ele diz: - Entendo. No começo também não gostava, mas a gente vai se acostumando. Ainda bem que tem escala, né?
O avião começa a decolar, acho que vou desmaiar.
- Não é? – pergunta novamente o senhor.
- É sim – respondo. São as únicas palavras que consigo balbuciar.
O senhor novamente fecha os olhos e deseja boa viagem. Só esboço uma tentativa de sorriso.
Olho para a janela e vejo o avião sair do chão, não sei o que é pior... Nessa hora sinto uma mão em meu ombro e escuto uma voz conhecida.
- Filha, acorda!!! Você vai perder o horário do voo!
Faço cara de espanto.
- Sem drama meu amor, de São Paulo pra Recife é bem rápido.
Vinícius Miranda